Talvez você tenha algum desses três tipos de dívidas sem saber

Escrito por Carlos E. S. Martins

Como se não bastassem os problemas causados pelas dívidas com as quais nós convivemos no dia a dia, existem pelo menos três tipos de dívidas que talvez você não esteja considerando. E não, eu não estou falando de dívidas ocultas, escondidas nas entrelinhas de contratos ou que roubam secretamente seu dinheiro, nem de operações disfarçadas no seu extrato bancário. Estou falando de coisas simples e comuns, que talvez você use com frequência mas que simplesmente nunca pensou que aquilo poderia ser uma dívida.

Primeiramente, vamos definir “dívidas”

O que são dívidas

Apesar de existirem definições contábeis bastante complicadas, para nós pessoas físicas comuns, as dívidas podem ser definidas de uma maneira bastante simples (e eu sempre prefiro as definições simples porque elas, em poucas palavras, dizem tudo o que nós precisamos saber sem enrolação, de maneira bastante objetiva):

Dívida é tudo aquilo que você tem que pagar, e que tem uma data para terminar

Explicando um pouco melhor a definição acima, tudo o que você precisa pagar, que não são as despesas de rotina, deve ser considerado como dívida. O financiamento de um carro é uma dívida porque, após terminado o prazo do financiamento, ainda que demore alguns anos, você não precisará mais pagar, ou seja, ele tinha uma data para terminar. A sua conta de água que você paga todo mês não tem data para terminar. Ela é um serviço que será prestado pelo resto da vida, e não pode ser  considerada uma dívida, mas sim uma despesa mensal de rotina.

Com essa explicação em mente, podemos falar agora de três tipos de dívidas que normalmente não são considerados dessa forma pela maior parte das pessoas:

  1. Saldo do cheque especial

Pelo fato de aparecer, no extrato bancário, logo depois do saldo disponível na conta corrente, muitas pessoas usam o limite do cheque especial como se fizesse parte do saldo da conta, mas não faz!

O saldo do cheque especial é um empréstimo, pré-aprovado para você e facilmente disponível para utilização, sem precisar conversar com ninguém do banco. Aliás, por essa facilidade de utilização e aprovação sem necessidade de análises mais criteriosas de seu risco de crédito, o cheque especial tem um dos maiores juros do mercado, chegando a valores astronômicos quando se considera a passagem do tempo. Nesse outro artigo aqui eu explico mais a respeito dos juros e o poder que eles têm sobre suas finanças, para o bem ou para o mal.

O limite do cheque especial, portanto, não faz parte do seu saldo, e esse dinheiro não é seu! Ao usá-lo, você está contraindo uma dívida, que deixará de existir assim que você cobrir o limite, concordando com a explicação acima de que a dívida é tudo o que você paga que tem prazo para acabar.

  1. Consignado

Especialmente se você for servidor público ou aposentado, deve ter bastante familiaridade com o termo “consignado”, pois essas duas categorias costumam ser constantemente assediadas por bancos e financeiras para contratar esse tipo de empréstimo. 

Pelo fato de ele ser debitado diretamente no holerite, ou seja, de ser descontado do salário, muitas vezes nos esquecemos de que ele está lá. Mas sim, ele existe. Ele é um empréstimo, com número de parcelas definido e com data para acabar, e portanto, é uma dívida.

Esse tipo de empréstimo é uma grande vantagem para o banco ou financeira, pois eles têm muito mais garantia de que vão receber o dinheiro emprestado, já que o pagamento é debitado do salário, e por causa dessa garantia maior essas instituições cobram juros mais baixos. Por esses dois motivos – o assédio das instituições e os juros mais baixos para o tomador – esse tipo de empréstimo é bastante difundido no país. Mas não se engane: ele é sim uma dívida e está lá todo mês tirando dinheiro do seu bolso.

  1. Compras a prazo

Ao fazer uma compra no carnê ou no cartão, estamos usando um instrumento do mercado chamado “crédito”, que nada mais é que um valor em dinheiro que alguém (uma loja ou uma empresa de cartão) te empresta para você fazer uma compra quando está sem dinheiro para pagar à vista. Depois você paga esse alguém que te deu o crédito, às vezes de uma única vez, mas na maioria das vezes o pagamento é parcelado.

Como o valor da parcela acaba fazendo parte da próxima fatura do cartão, muitas pessoas simplesmente não a consideram uma dívida, pois creem que o valor da fatura do mês do cartão de crédito, ou mesmo a parcela do carnê, é uma despesa mensal de rotina. Nada mais errado ! Apesar de a última fatura do cartão ser uma despesa para aquele mês, já que sairá dinheiro do seu bolso para pagá-la, o item “cartão de crédito” não é uma despesa mensal que você deva colocar no seu orçamento. Ele, assim como o carnê, são apenas meios de pagamento. A verdadeira despesa é o item que foi comprado com esse cartão ou carnê, e no caso de itens comprados a prazo, assim que terminar de pagar as parcelas aquela despesa deixa de existir, e isso é exatamente a definição de uma dívida.

A enorme maioria dos educadores financeiros, assim como eu, recomenda que você não tenha dívidas, devido aos enormes prejuízos que elas causam, tanto ao seu patrimônio quanto à sua saúde mental e física, mas isso é assunto para um outro artigo. Aliás, se você quiser saber como evitar ou sair de dívidas, eu coloquei todas as técnicas necessárias em um curso online, que você pode conhecer clicando aqui.

Esses três itens que listei neste artigo são muito comuns no dia a dia do brasileiro, mas muitas vezes não são tratados no planejamento financeiro das pessoas de forma correta. Com esse assunto não podemos brincar ou nos enganar. É muito importante ter clareza de que eles são sim dívidas, e não uma despesa mensal de rotina, para que você coloque de maneira correta no seu planejamento financeiro, ou seja, o valor total de todas as suas dívidas, incluindo os três itens que citei neste artigo, deve constar do seu balanço patrimonial e da sua listagem de dívidas, e não apenas o valor da parcela do mês constar do seu orçamento mensal.

E você, já havia parado para pensar que esses itens comuns também são dívidas? Você os coloca de maneira correta no seu planejamento ou não? Aliás, você tem um planejamento das suas finanças? 

Se ficou com alguma dúvida ou tiver alguma sugestão, fique à vontade para deixar aqui nos comentários.

Nos vemos no próximo artigo.

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