Demonizada pela enorme maioria dos educadores financeiros, a caderneta de poupança é a aplicação financeira preferida dos brasileiros, pela sua simplicidade, segurança e tradição em nosso mercado. Mas será mesmo que você deve tirar todo o seu dinheiro de lá como recomendam por aí? Nesse artigo eu quero explicar quatro importantes funções da caderneta de poupança, e qual o papel que ela deveria ter na composição do seu patrimônio.
Se você já viu algum vídeo do YouTube sobre o assunto, e caso você tenha dinheiro na poupança, você deve ter ficado arrasado e se sentido um idiota. Chega a dar vergonha de admitir para os outros que você tem dinheiro aplicado lá, não é mesmo? Mas a coisa não é bem assim.
Em primeiro lugar, eu gostaria de esclarecer aqui que a caderneta de poupança não é um bom investimento. Na verdade, eu considero que ela nem é um investimento: via de de regra ela pede para a inflação, ou seja, deixar dinheiro na poupança, principalmente no longo prazo, é perder poder de compra do seu dinheiro. Ela também não é o produto financeiro mais seguro que existe, ao contrário do que muita gente pensa. Então, podemos dizer sim que ela não é um bom investimento. É por esses dois pontos (perder para a inflação e não ser o mais seguro) que os educadores financeiros tanto demonizam a caderneta de poupança, e em parte eles estão certos, pois há investimentos muito melhores, tanto em termos de rendimento quanto de segurança. Mas nem por isso você deve tirar todo o seu dinheiro de lá. Existem ao menos quatro funções importantes em que a caderneta de poupança é muito adequada ou mesmo a melhor opção, e vou listá-los a seguir
1. Reserva de segurança
Já expliquei sobre reserva de segurança nesse artigo aqui, mas basicamente é um dinheiro que você mantém disponível para o caso de acontecerem situações inesperadas. Esse dinheiro precisa ter liquidez imediata, ou seja, estar facilmente disponível, e não pode estar exposto à volatilidade do mercado, pois você não gostaria de colocar um valor lá e, quando precisar, descobrir que só tem uma parte do que colocou, não é mesmo? A caderneta de poupança reúne todas essas condições, e portanto, é o local perfeito para você deixar a sua reserva. A caderneta de poupança não é investimento, mas a reserva de segurança também não.
2. Dinheiro para curto prazo
Se você já sabe que daqui a alguns meses você vai utilizar parte do seu dinheiro, por exemplo, para fazer uma viagem, não faz muito sentido misturar esse dinheiro com os seus investimentos, mesmo porque, como o tempo é um dos fatores mais importantes para o acúmulo de patrimônio, no curto prazo não faz muita diferença onde o seu dinheiro está aplicado.
Misturar os dois pode causar os seguintes problemas:
_ gera confusão: você não distingue o que é investimento e o que é dinheiro para consumo, e começa a girar os seus investimentos sempre que precisa de dinheiro. O seu cérebro começa a achar que está tudo bem se você ficar girando seu patrimônio e isso se torna um hábito, mesmo com todas as desvantagens que isso traz. Se você quiser que eu escreva um artigo sobre as desvantagens de girar seus investimentos, deixe um comentário abaixo;
_ te faz dar muita importância a detalhes irrelevantes: o quanto você vai ganhar a mais, se é que vai ganhar, ao aplicar por um curto período o seu dinheiro da viagem em uma aplicação que não seja a poupança, é irrisório, é uma diferença mínima. Você deixou seu dinheiro do curto prazo misturado com os investimentos, passou meses pensando em ganhar uma verdadeira mixaria, colocou foco em detalhes ao invés de focar em coisas realmente importantes para o aumento de seu patrimônio, e no fim, girou seus investimentos de forma desnecessária, correndo risco de pagar imposto de renda que não seria necessário se o dinheiro estivesse na caderneta de poupança
_ te faz correr risco com um dinheiro que você não podia arriscar: se você misturar com seus investimentos o dinheiro que será usado em um curto prazo, e além disso, misturar com investimentos que variam muito seu valor ao longo do tempo, você pode ser obrigado a sacar um valor menor do que aplicou, o que não seria uma coisa boa se você estava contando com aquele dinheiro para sua viagem. Isso não aconteceria se tivesse deixado quieto na poupança.
Dinheiro para curto prazo, portanto, é na caderneta de poupança. E o que eu chamaria de curto prazo? Eu diria que um período de até um ano e meio ou dois anos.
3. Quando você ainda está estudando sobre investimentos
Uma das máximas do mundo dos investimentos é: “não invista naquilo que você não conhece, pelo menos um pouco”. Investir no que você não entende pode causar grandes prejuízos, de diversas formas, como por exemplo: não entender os riscos daquele investimento, não saber a hora de sair, não conhecer detalhes importantes que podem impactar o valor investido, não entender como funciona a tributação etc. Enquanto você ainda está estudando sobre investimentos, a melhor coisa é deixar o dinheiro na poupança, pela segurança e baixa volatilidade.
4. Dinheiro grande recebido de uma única vez
Nunca é uma boa ideia movimentar grandes quantias de uma só vez. Isso mexe com as emoções do investidor, fazendo com que muitas vezes ele troque os pés pelas mãos. E se você considera que isso nunca aconteceria com você, muito cuidado: você é o primeiro da lista, pois não está atento o suficiente para o problema e também não está tendo humildade suficiente. Pelo menos esse seria um problema bom: saber onde colocar uma grande quantia recebida.
Se, por exemplo, você acabou de receber uma herança, ou ganhou uma indenização na justiça, é recomendado que você deixe esse dinheiro na poupança e vá movimentando aos poucos. Uma maneira muito sensata de agir nessa situação é, se você já tinha costume de aportar mensalmente um valor X em seus investimentos, agora você junta o mesmo valor vindo da poupança, e passa a aportar 2X.
Como vimos, apesar de a caderneta de poupança não ser um bom investimento em termos de rendimento, ela tem pelo menos quatro funções importantes, sendo que duas delas, a reserva de segurança e o dinheiro para curto prazo, devem estar presentes na carteira de todos os investidores. Ela não deve ser demonizada ou mesmo descartada de sua estratégia de investimentos. Além desses dois casos que eu acabei de citar, deixar o dinheiro na poupança quando recebemos uma bolada de uma só vez ou quando ainda estamos estudando sobre investimentos, pode nos proteger de nossas emoções ou de nossa ignorância financeira.
Também tem um outro ponto que os educadores financeiros não consideram quando falam mal de quem deixa o dinheiro na poupança: se você tem dinheiro lá, muito provavelmente é porque você está sem dívidas, trabalhou e adquiriu o hábito de poupar, e só isso já te deixa em uma situação melhor que a enorme maioria dos brasileiros. Talvez, também, você esteja mais focado em estudar coisas que te façam se desenvolver no seu trabalho e ganhar mais, do que em estudar investimentos. E curiosamente, o valor que você poupa por mês, a partir do seu salário, é muito mais relevante no valor final do seu patrimônio do que a rentabilidade alcançada nos investimentos.
Mas não é por isso que você deveria deixar de estudar investimentos e nem deveria deixar grandes quantias na poupança. Após atingida a sua meta de reserva de segurança, e tendo reservado já algum dinheiro para suas metas de curto prazo, aí o restante do dinheiro deve sim ser direcionado para seus investimentos, que podem te proporcionar melhores rendimentos e ou maior segurança, mas isso é assunto para outro artigo.
5. Motivo bônus: poupança antiga
Poupança antiga é aquela com depósitos realizados até o dia 3 de maio de 2012, quando o governo mudou as regras para o cálculo dos rendimentos. O valor depositado lá antes dessa data rende até hoje, por lei, a TR (Taxa Referencial, que atualmente está zerada) mais 0,5% ao mês , o que dá pouco mais de 6% ao ano. Já para os depósitos em poupança após essa data, a nova regra prevê que, toda vez que a taxa SELIC estiver abaixo de 8,5% ao ano (como está atualmente), o rendimento será de 70% da SELIC mais a TR, o que hoje dá cerca de 1,5% ao ano. Ou seja, a poupança antiga paga, atualmente, mais de 4 vezes o valor da poupança nova, o que a torna, talvez, o investimento de renda fixa mais rentável do país. Considerando esse bom rendimento, o fato de ser isenta de imposto de renda e o seu baixo risco, já que ela é protegida pelo FGC (Fundo Garantidor de Crédito) até o valor de R$ 250.000,00, será muito bom se você tiver dinheiro na poupança antiga, pelo menos enquanto a SELIC estiver abaixo de 8,5% ao ano.
E você, já tinha se sentido envergonhado por ter dinheiro na poupança? Já tinha se dado conta que ela tem, pelo menos, essas quatro funções em uma carteira de investimentos? Por favor, deixe nos comentários se você se lembra de mais alguma função ou se você ficou com alguma dúvida. Grande abraço e até o próximo artigo.
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